sábado, 27 de setembro de 2014

Batatinha frita, 1, 2, 3

     (Mildo Ferreira é para nós um grande parceiro. Morador participativo do movimento na Ocupação São João, é um artista, um compositor, e traz sempre uma cor humana muito viva em sua participação no processo de luta por moradia. Sua acolhida em relação à nossa presença na Ocupação foi muito importante para nós, e assim que foi possível, ele ingressou no nosso primeiro ciclo de trabalho, a Oficina de Teatro do Oprimido, que realizamos nos dois primeiros meses do projeto Não Consta no Mapa, em parceria com o Centro Cultural Ocupação São João, do qual o Mildo é um intenso colaborador. A oficina ocorreu dentro mesmo da Ocupação. É com muito prazer que reproduzimos aqui o texto que ele escreveu sobre essa experiência.)




Batatinha frita, 1, 2, 3...

Mildo Ferreira

      Inicialmente tive dificuldades de entender até aonde chegaríamos, mas aos poucos foram se encaixando as peças e comecei a entender a atividades do Teatro do Oprimido. Essa atividade, que se constitui a partir das experiências pessoais de cada indivíduo, envolveu crianças, adolescentes e adultos, os quais são diretores de teatro, atores, artistas plásticos, estudantes, operários, entre outros.

     As atividades foram desenvolvidas através dos jogos do Teatro do Oprimido e aos poucos construindo as cenas. Durante os exercícios dos jogos passados pelo prof. Armindo, foi desconstruída a questão hierárquica de que a criança e adultos não possam interagir no mesmo mundo; exemplo disso foi passado na própria construção da peça, apresentando resultados que possivelmente partiram da relação, não de subordinação, mas sim, convivência e respeito com o outro, levando à construção de vínculos.

     Durante os encontros, também pôde se contar com interação, através de 2 estrangeiros Argentinos, apesar das limitações através da linguagem, mas mesmo assim o contato foi positivo, fato notório entre as crianças.

     Vale comentar que a cada Encontro eram entregues dois cadernos, sendo esses um de poesia e o outro com olhar técnico, os quais eram entregues a alguns participantes, e no início do próximo encontro eram apresentados ao grupo.

      A construção...

     A peça teatral se deu a partir das experiências de repressão vividas pelas crianças no ambiente escolar, apresentadas através dos personagens: professores, diretores, supervisoras, faxineiras, alunos e os personagens imaginários, o relógio e a máquina, a qual levantava a questão dos sonhos profissionais de cada indivíduo que em sua maioria não se concretiza devido a atual forma de sistema, “o capitalista”.

      A apresentação...
 
     Ocorreu na rua, na Avenida São João próximo ao nº 588, e entre os presentes estavam pais, moradores da Ocupação, amigos e curiosos.
     Após a apresentação houve a participação da plateia, a qual interveio no funcionamento da máquina, com intuito de dissolver a alienação dos personagens.
     A apresentação do teatro do oprimido em alguns momentos fez o indivíduo repensar a sua relação mediante a sociedade e construir uma consciência colocando claramente quem é o opressor e o oprimido; assim concluí que a experiência foi avassaladora, direcionando caminhos possíveis para a dissolução da real situação, construindo assim uma consciência coletiva.
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Acrescentamos aqui o link de uma filmagem feita por uma das pessoas que estavam assistindo a essa apresentação:

https://www.youtube.com/watch?v=NxregX3ZnZg

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sábado, 6 de setembro de 2014

Quando entrou setembro.

    No dia primeiro de setembro, o Coletivo Território B realizou um exercício de intervenção, contando com a participação de dois moradores da Ocupação São João, nas calçadas da Avenida São João e da Rua Conselheiro Crispiniano. Os interventores estavam com suas bocas lacradas, e carregavam cinco bastões, uma corda e uma lona, com o quê montavam uma pequena barraca em algum local. Usando gizes, e juntamente com os passantes, deixavam espalhados desenhos, frases, palavras soltas, enfim, suas participações que ficariam no local após a retirada do barraco, que só acontecia quando um dos interventores caía "morto" na calçada. A ação durou cerca de uma hora. Naturalmente, todas as regras da intervenção foram quebradas ao longo da ação, tanto por pessoas de fora como por pessoas de dentro.