por Tábata Costa
Entre
julho e março de 2014 o Coletivo Mapa Xilográfico realizou um
conjunto de oficinas de intervenções urbanas com o Coletivo
Território B. Ao longo de cerca de 20 encontros de aproximadamente
quatro horas cada (total de 80 horas) levamos para discutir diversas
referências em registros audiovisuais, livros e textos de artistas e
grupos que utilizam da intervenção urbana, performance, instalação
e conceitos da arte contemporânea como estratégia de aproximação
do espaço urbano, de questões sociais como o direito à cidade e
questionamentos sobre o próprio circuito de arte: o livro Elogio aos
Errantes, de Paola Berenstein; o grafiteiro e artista visual Banksy;
GIA - Grupo de Interferência Ambiental, de Salvador (BA).
Levamos
também registros e reflexões a partir de performances e
intervenções que realizamos nos últimos 6 anos. Algumas dessas
ações (tanto nossas quanto de outros artistas que nos inspiram)
foram levadas como propostas a serem realizadas pelos participantes
das oficinas, e que como: proposições de Yoko Ono (do livro
Grapefruit) e derivas a partir das inquietações sobre a relação
dos habitantes com a cidade levantadas pelos situacionistas.
Os
primeiros experimentos coletivos foram realizadas no sentido de
praticar a percepção corporal de si e do outro com relação à
cidade através de ações poéticas não-cotidianas.
Depois
foram feitas constantes provocações para que os participantes
criassem intervenções urbanas e interações no espaço urbano a
partir de parâmetros diferentes da representação e dos que são
usados em seu processo de pesquisa e criação de teatro de rua,
dando preferência para ações simples em relação direta com o
local e/ou as pessoas.
Segue
descrição das ações criadas pelos participantes da oficina, todas
realizadas no centro de São Paulo:
-
Coro
A
partir da observação do ambiente próximo à ocupação no prédio
Columbus, o grupo de participantes unido em bloco percorreu os
calçadões de modo que a cada momento um deles iniciava uma ação
corporal e/ou sonora que era amplificada/repetida pelos outros,
resultando em moemntos bem musicais. Era como um coro que amplificava
movimentos que complementavam ou se contrapunham à dinâmica e ao
ritmo local.
A
partir da reação de pessoas que vivem e trabalham nesses locais que
questionaram o que o grupo fazia, houve uma importante reflexão
posterior sobre a proposta e as barreiras entre arte e público na
cidade.
-
Corrida
Foram
duas ações seguidas, realizadas numa madrugada no meio da semana no
centro de São Paulo. Na varanda do apartamento de uma das
participantes, todos ficaram sentados em silêncio atentos aos sons
durante 15 minutos ininterruptos. Logo depois foi feita uma corrida
coletiva pelas ruas, também durante 15 minutos ininterruptos. Com
essas ações simples pudemos captar mais a noite da cidade de
perspectivas diversas de nosso cotidiano.
-
Quadrado autônomo
Foi
um conjunto de ações espontâneas e outras mais performáticas
realizadas dentro de um espaço quadrangular demarcado no chão de um
largo de grande circulação de pessoas em que foram levados diversos
elementos como objetos, roupas, comidas e almofadas compondo um
espaço atraente e convidativo a quem passava e onde brincava-se com
o exercício da liberdade de estar, dialogar, compartilhar com os
transeuntes. Muita gente parou por ali para interagir, conversar,
contar histórias e comer com os participantes. Suscitou interessante
reflexão sobre os limites do espaço público.
-
Mulheres Secas
A
partir do problema da falta de água na cidade e tendo como
referências como o trabalho das lavadeiras de roupas, fizemos uma
ação nas proximidades das nascentes do Rio Saracura, no bairro do
Bixiga. Usando baldes cada participante esfregava roupas usando terra
e pedras dos baldes e depois compartilhava memórias que remetiam à
secura e à infertilidade. Foi uma troca coletiva muito rica. O
íntimo e o público, o cotidiano e o ritual se atravessaram e foram
trazidos à tona naquele local simbólico. As nascentes do Saracura
estão secas.
Intercalávamos
as ações na rua com reuniões de avaliação e reflexão sobre esse
percorrer a cidade, os limites entre intervenção urbana,
improvisação e cena teatral, a interferência do registro
audiovisual na ação, a potência do instante.
Foi
um processo muito produtivo em que os participantes se dispuseram a
experimentar os pontos de vista diversos que foram propostos, a
arriscar ações menos programadas e a rever as possibilidades da
ação artística ou ritualística coletiva no espaço urbano.
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